Biografia de pré-candidata ao Governo do PI fala de pobreza, abuso sexual, doença da filha e superação
A pré-candidata ao Governo do Piauí pelo PMN, advogada, jornalista e professora Ravenna Castro divulgou hoje (13/04), em suas redes sociais a sua história de vida. Lá ela revela fatos que ocorreram desde a sua infância até os dias atuais. Jornalista que é, tem facilidade na escrita e aborda com bastante sensibilidade temáticas que foram vividas por ela própria como pobreza, abuso sexual na adolescência, gravidez de risco, casamento, a doença da filha e também fala dos seus anseios para o futuro.
O texto é grade, mas é uma história que vale a pena ser lida.
Ravenna é a primeira pré-candidata mulher confirmada na disputa pelo Governo do Estado do Piaui. Confira, na íntegra!
“Meu nome é Ravenna Castro, tenho 35 anos e sou pré-candidata ao Governo do Piauí pelo PMN. Eu quero te contar um pouco da minha história de vida. Sou nascida e criada em Teresina, irmã mais velha de três filhos que meus pais tiveram. Filha de um ex-cobrador de ônibus com uma “dona de casa”. Meus pais se conheceram e se casaram, mas nunca tiveram condições para ter um lar que fosse da gente. Por isso, morei a minha infância e adolescência sempre de favor nas casas dos outros. Foram duas moradias cedidas por tios em que passei até os meus 12 anos, quando fui morar na casa da minha avó definitivamente. Meu pai sempre teve depressão recorrente e minha mãe não tinha muita qualificação e tinha que cuidar de mim e meus irmãos e a gente passava muito perrengue até para conseguir se alimentar. Graças a Deus e ao salário do meu avô, um militar, nós não passamos fome. A casa cedida que morávamos era praticamente ao lado do quintal da minha avó. Nunca me esqueço que todos os dias, ao meio dia, ela manda uma bacia com comida por cima do muro, para que a gente pudesse almoçar. Passamos muitas privações. Luz, água cortada, vestia roupas usadas e vindas de doação, faltava quase tudo e a gente se virava com o que tinha. Lembro que morávamos numa casa de 5 metros de frente no bairro São João e ficava todo mundo num único quarto que existia na casa e o banheiro era externo, no quintal e era sempre cheio de sapos, numa casa cedida pela minha tia. Meu pai chegou a passar 12 anos ininterruptos desempregado e com depressão até alguém, com piedade da gente, conseguir “arrumar um emprego para ele”. Minha mãe engravidou do terceiro filho e antes dela nascer meu pai foi dispensado do emprego. Lembro também das poucas e desgastadas roupas que tinha, das bonecas e móveis doados de segunda mão. Mas estávamos em casa. Eu dormia numa cama doada pela minha tia, amontoada com toda a família em quarto pequeno. Lembro-me de uma tv que minha mãe comprou e não conseguiu pagar e a loja mandou ir buscar lá em casa.
Até que um dia meu avô falece e a minha tia precisou vender a casa em que a gente morava. E nós fomos morar num bairro distante, em casas habitacionais pequenas e a família toda morava lá.
Meu avô morreu e as coisas começaram a ficar mais apertadas até para alimentação e eu tive que definitivamente ir morar na casa de minha avó. E nesse mesmo trajeto passaram logo depois todos os meus irmãos. Logo percebi que estudar era a opção que poderia me salvar no futuro. Me deparei com a sina dos irmãos mais velhos, de família humilde e que geralmente carregam nos ombros a responsabilidade de ajudar os pais e os irmãos. Comecei a fabricar bijuteria artesanal para vender na escola. Cheguei a procurar emprego de babá e doméstica, mas ninguém queria me contratar porque eu era menor de idade e sem experiência. Conheci de perto os riscos de uma adolescente necessitada e vulnerável. Fui assediada em várias entrevistas de emprego e quase fui cooptada pela prostituição. Não cheguei a usar e nem vendi drogas, mas tinha amigos adolescentes que usavam na escola. Conheci de perto as vulnerabilidades de uma infância e adolescência vinda de família carente.
Lembro que aos 15 anos, no percurso de volta da escola, entrei numa loja de eletrodomésticos e pedi uma vaga de emprego. O dono da loja disse para eu aguardar no gabinete dele, atrás da loja. E lá ele tentou abusar de mim, me convencer a ter um caso com ele que ele ia garantir o meu salário sem eu precisar trabalhar. Fiquei tão assustada com o que eu ouvi. Ele levantou-se, trancou a porta… Eu dizia para ele parar, mas ele não parava. Eu disse que ia gritar. Ele tampou minha boca… Eu com nojo, consegui empurrá-lo, correr até a porta e abri-la, com as mãos todas sujas e saí correndo. Nunca mais eu pisei naquela maldita loja e também nunca contei para ninguém o que me ocorreu de tanta vergonha que tive e imaginei que ninguém ia acreditar em mim, uma adolescente contra um empresário. Fui embora humilhada. Com o tempo, superei o trauma.
Os anos foram se passando e esperei fazer 18 anos para conseguir o meu primeiro emprego num call center. Depois fui pro comercio ser vendedora numa loja de sapatos e comecei a ganhar meu dinheirinho. Fui pagar faculdade. Trabalhava e estudava. Virei jornalista, passei por vários veículos de comunicação em Teresina, de jornais a portais de notícias, entrei no curso de Direito, passei no exame da OAB e me tornei advogada, depois professora em duas faculdades particulares que tive oportunidade de lecionar no Curso de Direito. Casei, fui morar em quitinetes, continuei morando em casas populares (aquelas do estilo minha casa minha vida), em um bairro no subúrbio, e ainda assim a gente não tinha condições sequer para fazer um muro. Tive a minha filha quando eu completei 28, já terminando minha pós-graduação, pegava ônibus na volta pra casa sozinha, grávida, tarde da noite no centro de Teresina.
Tive uma gravidez de alto risco. Quase perdi o bebê. Separei após seis meses do nascimento da minha filha. Tive um casamento conturbado, sob muitas brigas e desentendimentos, mas quero deixar claro que respeito muito o pai da minha filha e em nome dela superamos nossas desavenças. Eu o respeito, ele me respeita e nós temos uma filha para criar e educar. Reconheço que não foram só tristezas e ele também me ajudou e apoiou muito até eu conseguir chegar na minha atual profissão. Tivemos maturidade para saber quando as coisas devem encerrar e eu nunca sequer falei mal dele um dia na vida para minha filha e nem espere isso de mim. Julia precisa ter pai e mãe e não sou eu quem vai colocar em dúvida ou desfazer a família dela. Posso encerrar meu relacionamento, mas não posso encerrar com a paternidade do pai dela. E quero ele de pé, com saúde e bem sucedido para poder me ajudar a cuidar da nossa filha. É claro que mexe com o psicológico da mulher e só Deus sabe os traumas que ganhei e tive que lutar para poder voltar a caminhar sozinha e não ficar no chão após a separação. Lembro que eu não conseguia nem dirigir um carro mais. Aí o tempo foi passando e eu aos poucos fui me levantando, pela minha filha.
Larguei minhas turmas da faculdade porque não tinha como trabalhar externo os três turnos e precisava cuidar da minha filha, na época ela tinha quase três anos de idade. E já tinha alguns comportamentos estranhos, diferentes dos bebês da idade dela. Comecei a observar e cuidar mais de perto. Ela tinha dificuldade para dormir, para acordar cedo, teve crises de pânico. Via coisas que assustavam ela. Eu tinha medo de leva-la num neuropediatra e ele dizer que minha filha tinha algum problema mental. Ai segurei enquanto pude até que aos 6 e meio não deu mais e tive que levar.
Minha família já era essa pequena unidade familiar: eu e minha filha pequena. Tinha meus pais que na época moravam comigo para me ajudar a olhar a Julia enquanto eu ia trabalhar. Mas não foi permanente. Depois de muito rodar de médico em médico, clínica em clínica fazendo exames, ela foi diagnosticada com TDAH, TOD e Dislexia por um neuropediatra muito experiente. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, transtorno opositivo desafiador e a própria dislexia, respectivamente. Passou medicação forte, tarja preta associada a três tipos de terapia multidisciplinar com psicóloga, psicopedagoga e terapeuta ocupacional. Ai meu chão abre novamente bem no meio.
Escolhi tratar e minha vida permanece de clínica em clínica. E isso não é vitimismo, tá! Não me vejam como vítima, eu não sou e nem quero ser vítima de nada. Não defendam nem cultuem o vitimismo. É preciso reagir. É só a vida acontecendo, cada um com seus desafios e problemas e eu estou só aqui partilhando um pouco das minhas vivências para vocês conhecerem um pouco dos caminhos que trilhei.
Ela tem sete anos e meio, ainda não sabe ler e nem escreve com fluência. Mas cada um no seu tempo. Há tempo para tudo debaixo desse céu. Ela é a minha companheira de todas as horas. Pensei bastante se iria compartilhar essa informação com vocês, se estaria de alguma forma, expondo minha filha, mas decidi dizer: Sou mãe de TDAH. Eu sou nova nisso. Passei mais de dez anos estudando a fundo sobre violência contra a mulher e hoje eu estou iniciando essa jornada de estudos na área do TDAH. Quem sabe além de ajudar a minha filha a superar esse problema e ser uma adulta funcional eu possa ajudar também outras pessoas.
As mães, e porque não dizer pais também, vão me entender e concordar que as prioridades mudam depois que a gente tem filho. Não cabe a mim reclamar de nada. Quando eu olho para trás, de onde eu vim, os limites que superei. Ah, eu não quero mais nada para mim. Eu posso elencar perfeitamente os momentos da minha vida onde eu fui plenamente feliz e isso já me basta: a minha formatura, minha aprovação na OAB, quando eu pude dar aula na faculdade como professora do curso de Direito e ensinei até para alunos de mais de 60 anos de idade. Quando o médico me disse que a tomografia do crânio dela tinha dado normal e que com o tempo ela iria melhorar. Quando confiaram em mim para me tornar presidente de partido político. Eu já fui extremamente feliz e não preciso de mais nada para mim. E garanto a vocês que todos esses momentos em que eu fui mais feliz na minha vida nada tinham a ver com dinheiro. Nada disso foi por dinheiro. É claro que é importante e a gente precisa para garantir a nossa dignidade e da nossa família. Mas as melhores coisas da vida realmente não são coisas. São momentos, pessoas, realizações, posso lhes afirmar que comigo foi assim. E toda essa história foi para dizer que o mais importante hoje para mim é garantir um futuro e a dignidade da minha filha e acredito que todos vocês pais pensem da mesma fora em relação aos seus. E a gente precisa garantir isso. Garantir uma vida digna, em que nossos filhos não sejam excluídos, marginalizados, arremessados por cima de muros ou enviados em trens para um futuro incerto, desconhecido e longe de nós. Não só pela esperança de sobrevivência. Mas pela garantia de um mínimo de dignidade. É por eles que devemos lutar e não temos o direito de desistir. Eu vejo vocês! E é por isso que resolvi encarar essa pré-candidatura ao Governo do Estado. Porque minha vida sempre foi de superação e eu me vejo em vocês. Eu quero levar a minha mensagem às famílias. Expor minhas idéias, ouvir a deles e contribuir para um debate produtivo. Nunca aprendi a ficar esperando por ninguém e acredito que nós mesmos somos as pessoas por quem esperávamos. Precisamos de humanização. Precisamos de dignidade para os nossos filhos. É dessa oportunidade que precisamos, de uma política feita para nós e por nós, o povo, as famílias piauienses.
Se você me entende, então, me dá tua mão e vem comigo! E vamos juntos nessa jornada!
Abraço bem forte e fiquem com Deus. Até logo. Até já já!
Ravenna (que não é a madrasta da Branca de Neve)”
Ravenna (que não é a madrasta da Branca de Neve)”