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Eleição atípica: Ausência de Firmino deixa orfãos, legado, lição e vazio na política do Piauí

A advogada e jornalista, Ravenna Castro, pré-candidata ao Governo do Estado do Piauí pelo Mobiliza 33 (PMN), publicou, na manhã desta quarta-feira (20/04), em suas redes sociais um relato sobre o ex-prefeito Firmino Filho. Ela faz reflexões sobre liderança, aliados e sobre mudanças no cenário político deste ano após a morte de Firmino.

Confira, abaixo, na íntegra, o texto.

São exatamente 04h31 da manhã e eu, como toda e qualquer mãe quando o filho está doente, observo silenciosamente o sono da minha filha Júlia (7 anos), por conta de uma gripe e uma febre que ela apresentou recentemente. Vi o sol clarear na janela do quarto enquanto viajava em minhas reflexões e conferia a temperatura da febre da Julia. Foi então que resolvi escrever.

Gosto muito das reflexões relacionadas aos comportamentos humanos, da natureza das pessoas. Olhando para minha filha com quase 40 graus de febre, enquanto esperava o dia amanhecer para levá-la ao médico, refletia: Antigamente eu acreditava que o maior medo de uma mãe era o medo da morte, como toda e qualquer pessoa. Hoje, como toda e qualquer mãe, vejo que não é bem isso. Não é mais o medo da morte propriamente dita. A angústia que aflige todas as mães é o de morrer e deixar nossos filhos órfãos, desassistidos, sozinhos, sem ninguém por eles. Falo como mãe e acredito que é o nosso maior medo!

E por falar em morte. É impressionante e coisa que me causa espanto é a rapidez com que as pessoas são esquecidas depois que elas se vão. Temos tantos exemplos. A Marília Mendonça (que também é mãe) e até o mais próximo como foi o caso do eterno prefeito Firmino, que também é pai. Não só pai do Bruno, da Cristina e da Bárbara (a quem eu desejo especial e toda sorte de bençãos do mundo nessa caminhada política que resolveu trilhar. Estou torcendo por você), aliás, rogo para que Deus abençoe, ampare e conforte todos os três filhos e especialmente a esposa Lucy, guerreira, companheira e admirável como sempre. Vocês têm toda a minha eterna admiração e respeito. Mas Firmino não era só pai de três filhos. Firmino era pai de multidões, era pai de Teresina. Dessa cidade inteira. Em cada canto dessa capital é possível ver, sentir e lembrar da importância do Firmino. Mas a morte não é o fim. O morto ainda vive no coração dos que o amam e o respeitam e se depender de nós, viverá eternamente.

Lembro-me de algumas vezes que estive com Firmino no gabinete da Vice-Prefeitura, onde ele costumava atender. As vezes eu, ele e a Julia (minha filha) e tivemos a oportunidade de conversar enquanto ele ensinava o alfabeto para minha filha. E nada toca mais uma mãe do que a forma como você trata os filhos dela. Talvez eu nem lembre de tudo que falamos, mas nunca vou esquecer da maneira com que ele tratou minha filha.

“Ravenna, aproveite essa fase. É a melhor fase para estar junto dos filhos, assim quando são pequenos, acompanhando e isso passa rápido”, disse ele enquanto eu relatava a condição do TDAH, dislexia e a idade da minha filha que ainda não sabia ler e escrever aos 6 anos de idade. Falamos de política também.

Era incrível a capacidade de liderança e sensibilidade daquele homem. Conhecia cada canto dessa cidade e acredito que todas as lideranças de Teresina, chamava cada uma delas pelo nome. Era o guerreiro que estava na linha de frente de todos os combates. Doou-se tanto para essa cidade. Exímio articulador político e ser humano verdadeiramente humano.

E não estou aqui tecendo elogios aos que morrem, como estranha e costumeiramente fazem os vivos. Quem me conhece sabe que mando flores e elogios em vida. As pessoas precisam saber o quão são importantes para nós e as coisas devem ser ditas a elas em vida!!! Pois como bem disse ele: passa rápido!
É impossível não notar o vazio que há no meio dessa cidade, também no meio desse ano eleitoral. Uma perda política e humana irreparável, insubstituível, uma verdadeira cicatriz no rosto de Teresina.
Estávamos tão acostumados com a presença e a liderança de Firmino que essa eleição chega a ser atípica. Eu vejo tanta gente órfão do Firmino. Gente que se apegava a ele quase como um discipulado. Eu tenho essa pessoal sensibilidade e consigo perceber o choro silencioso e abafado de cada um deles. Mas também vi o quanto uns rápido e facilmente se adaptaram a novos grupos e líderes, de acordo com suas afinidades, prioridades e interesses. Afinal, “rei morto, rei posto”, para alguns sim!

Contrariando os ensinamentos de “O Príncipe”, de Maquiavel, Firmino era mais amado do que temido, talvez até temido, mas no âmbito da disputa eleitoral propriamente dita, e prova que não existe uma formula pronta, escrita, um manual para liderar e governar. Mas mostra claramente que a humanidade deve ser sempre fator primeiro e foi essa humanidade que nos últimos dias do nosso eterno líder nos mostrou o quão aflito ele estava por conta da pandemia, que em seu auge, ameaçava seu povo.

Nossa, quanto orgulho eu tenho de ter sido contemporânea dele e de ter aprendido algumas coisas. O quão sou grata pelos ensinamentos extraídos das vezes que conversamos e dos exemplos deixados. Acho que hoje eu amanheci meio melancólica e saudosista. Eu acredito que seres humanos são singulares, únicos e não creio que as pessoas sejam substituíveis. Firmino nos mostrou que muito além de um bom político, mostrou que de um líder se exige especiais, nobres habilidades e virtudes. E a principal delas: A humanidade! Que a política não deve ser esse instrumento mecânico, com discursos padronizados, de rostos apáticos e treinados, de cartas marcas e um jogo de interesses pessoais. Que é preciso ter humanização na política. Que nos super-heróis, embaixo das capas, existem pessoas humanas, que também precisam ser tratadas como tal, e é para elas e por elas que se deve governar. Acredito que é algo não muito diferente de quem governa sua casa e se preocupa e protege seus filhos.

Teresina assistiu toda a aflição e o medo que o nosso líder Firmino teve dos efeitos arrasadores da pandemia antes da sua prematura partida, que ameaçava a vida do seu povo e impunha efeitos devastadores à economia. Como um pai/líder diligente teve que adotar soluções rápidas e enérgicas para proteger seu povo. Como um pai que protege seus filhos, vimos a aflição em seu rosto. A expressão preocupada e introspectiva. E por vezes, até o desespero quanto a ameaça que se levantava contra a vida do seu povo. Nunca vou esquecer daquela frase: “Economistas sabem como ressuscitar uma economia, mas médicos não sabem como ressuscitar vidas!”. Tão apropriado, pois acabamos de passar pelo Domingo de Páscoa que nos remete à ressureição do maior líder que já esteve dentro os humanos: Jesus Cristo, que veio ao mundo para nos salvar e nos ensinar valores de humanidade.

Naquele cenário de caos, vi gente distante, omisso, inerte. Que podia fazer algo e mesmo assim não fez. Vi gente junto, ‘pro que der e vier’. Vi além dos desafios, preocupações, vi as obras, as atitudes, os exemplos, os legados, vi líder sendo gente, mas gente de verdade. Vi também alguns políticos sendo apenas políticos. Firmino nos ensinou que ser humano, verdadeiramente humano é que faz a real importância de um líder. E que a liderança obriga ao risco. Como o imperador romano Juliano fez história, na linha de frente do exército, sem usar qualquer armadura, e morreu em combate com a primeira flecha no peito, a frente do seu exército, em campo de batalha. E nos dias atuais, como não falar em Zelensky, presidente da Ucrânia, eleito democraticamente pelo povo, que hoje enfrenta de pé e inarredável, recusando-se a sair do país, permanece em solo ucraniano mesmo diante da dantesca devastação do seu povo, que a potência militar vizinha impõe sobre eles. Realmente, de um líder digno se espera especiais qualidades. Até mesmo que esteja disposto a morrer pelo seu povo. Ah, e eu posso falar que aqui no meu Piauí é terra em que o próprio povo se faz herói, como no episódio em que enfrenta, praticamente desarmado, os falsos lideres, também colocando a vida em jogo, eu falo da sangrenta e desproporcional Batalha do Jenipapo. E isso tudo nos ensina. E como diz o padre Vieira “vida é uma lâmpada; acesa, vidro e fogo. Vidro que com um sopro se faz; Fogo, que com um sopro se apaga.”

Eu falo de gente que é gente, que chega a renunciar ou negligenciar de si para preservar seu povo. Firmino nos mostrou, nos ensinou que líderes não são omissos, líderes não são inertes e lideres nunca serão distantes e alheios ao sofrimento de seu povo. E que possuem a marca da sensibilidade de conseguir ouvir e prestar-se ao chamado do povo, e isso nada tem a ver em atender ao chamados de políticos por interesses pessoais e também políticos. Reflitam!

Que nunca nos esqueçamos daqueles que agiram e daqueles que se omitiram e se mantiveram inertes no momento que mais precisamos. Porque tão importante quanto a própria guerra é saber quem luta ao nosso lado nas trincheiras. Que condecoremos os heróis e saibamos identificar os usurpadores, que não podem apropriar-se do legado de quem realmente lutou e morreu em combate. E que nunca nos esqueçamos que as coisas mais importantes deixadas como legado ao mundo não foram por fama ou poder.

As obras mais importantes deixadas ao mundo foram feitas pelo amor empregado no desempenho do que se fazia e pela expressão de humanidade com que foram constituídas. As obras de Cora Coralina, Madre Teresa, Aleijadinho e Beethoven, quando aos 97% de surdez edifica a mais bela canção da humanidade, e nos presenteia com a sua 9ª sinfonia, dentre tantos outros exemplos que podia descrever. Todos eles deixaram sua importância ao mundo através do amor e humanidade com que faziam o que faziam. E a política não deve ser diferente. Que sejamos mais humanos e menos políticos!

À família do Firmino, eu vou orar eternamente por vocês. Que Deus os abençoem e cuide de vocês. Terão sempre nossa gratidão e reconhecimento.

Ao Firmino, só posso dizer o nosso muito e eterno obrigada por tudo. E que a história política de Teresina se divide em antes e depois de Firmino Filho.

Em tudo, dai graças! Deus será sempre a nossa força e conforto!

Ravenna Castro, só mais uma mãe e aprendiz de política aqui no Piauí.

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